novembro 08, 2019

Geleias Caminhos Das Alagoas. Cabais numa boa mesa!










Entre idas e vindas, durante as trilhas e caminhadas no interior de Alagoas, me gabava em comprar tantas frutas tropicais e tão abundantes e diversificadas nas feiras livres em nossa região. Via até desperdício na forma "indolente" em negociar as frutas. Aquilo me incomodava e deixava cada vez mais curiosa pois sabia que, historicamente, se negociava displicentemente produtos e costumes valorizados "à preço de ouro" em outras terras  e dessa forma expostos na região. 

Conhecedora de algo sobre a culinária chamada "Civilização do Açúcar", procurei empreender focada nos derivados da produção da cana de açúcar e suas especiarias. Nessa miscigenação que é a nossa culinária regional. Rica em sabores e cheiros. De um todo de especiarias europeias e asiáticas com nossas frutas tropicais e raízes, surgiram receitas com açúcar demerara, rapadura, cachaça, canela , cravo, anis, noz moscada e outros. Produzo artesanalmente, geleias de frutas tropicais cento natural, com paixão, ciente de fazer parte de uma rica história da culinária alagoana.

Vieram, depois de um curso valoroso, as geleias exaltando tudo que prevalece na experiencia européia das geleias francesas e italianas com a culinária regional de iguarias nativas. 

E os sabores explodem naquilo que nos é, culturalmente, muito especifico e que fez das minhas geleias algo singular. Cabais, por assim dizer. Acompanhe e saboreie encomendando pelo Whatssap 82 99938.0939 






























GELEIAS CABAIS
Por Gianna Perrelli

Estou eu aqui, de frente para o calor do fogão, olhando vidrada para a caçarola borbulhante e cheirosa de geleia de tangerina com especiarias - gengibre, canela e noz moscada, apuradas na rapadura de cana - que acaba de ficar pronta. Satisfatoriamente apetitosa e deliciosa. Mas divago distraída pelo pipocar da geleia: Desde quando elas significam algo mais que um doce e certamente tornaram-se, para mim, cabais?!






Tenho grandes momentos com geleias que poderiam ter passado desapercebidos se não fosse elas, realmente, absolutas na culinária dessa nordestina brasileiríssima, descendente de italianos. 

Não que eu as fizesse. Mas sempre que se apresentavam nas mesas, eu me aproximava e as degustava vagarosamente. Têm sabor de algo mais além de sua doçura. Têm sabor de história.

Minha vez se fez quando, inspirada em algo além, juntei a experiencia do Turismo Sustentável no roteiro Civilização do Açúcar (especiarias e derivados da cana) no qual me aprimorei com, digamos, a velha balança de peso da massa italiana que meu pai fazia em casa para toda a família!  


Eu, mestre em geleias
                   
Euzinha, apaixonada 
por geleias

No Brasil se aprimorou geleias caseiras como nunca quando se misturou a técnica europeia da produção de geleias com nossas frutas tropicais. Molengas, coloridas e saborosas em sua confecção, o cheiro das frutas com o doce do açúcar demerara sempre me levou, ainda criança, para a beira do fogão das cozinhas de minha tia e avó paterna. Era a “provadora” oficial do produto final mesmo não entendo nada delas e que, um dia seriam importantes na minha vida. Geleias são cabais numa mesa!







Primeiro quero esclarecer.


Vovó nunca foi especialista em geleias mas sua filha mais velha, e minha madrinha, Giovanna (chamada carinhosamente de Maína) era especialista em belas mesas e praticava, elegantemente, o chá da tarde com sua melhor louça e toalha de renda Renascença. Não sem antes adoçar com quitutes sua cozinha, entre elas a geleia, e levar à sua mesa.






















Eu, criança e curiosa, ajudava cuidadosamente na arrumação daquele que pra mim era um “evento”, no anseio de sentar-me entre os adultos e também “bicar” os bolos, docinhos e bolachinhas regados à geleia. Não me lembro de sabor mas sei que, anos mais tarde, herdei sua bandeja de prata com espelho de cristal na qual cabiam potinhos também de cristal, onde brilhavam três sabores especiais de suas geleias. Minha tia me confiava seus pratos de porcelana fina, de cor uniforme rosa claro, de origem inglesa, presentes de seu casamento. Arrumava lentamente pratos de sobremesa, pires com suas correspondentes xícaras ao redor de uma mesa grande e redonda no centro de sua sala. Depois vinham os talheres que acredito serem de prata pois brilhavam mais que o normal. Copos de cristal e lindos guardanapos de fina renda. Eu sempre, e inadvertidamente, usava a xícara embocada como todo nordestino, e era corrigida! Queriam uma mesa linda e bem posta, recorressem a Giovanna?!!...

Maína me olhava de soslaio, me ensinava mais alguma coisa e deveria pensar consigo: -“Essa leva jeito”!. Mal sabia ela (e eu) que as geleias me acompanhariam no tempo, mas que de “lady inglesa” eu não tenho nada! Sempre fui um “quê” destrambelhada e desastrada na cozinha. E me parecia mais apta a fazer uma buchada nordestina (desculpem a comparação mas é verdade!).


















Cresci absorta em outras questões e já adulta, de passeio em Santa Catarina com meu tio Luis Henrique (lado materno), saímos cedinho para pegar pão na padaria e, rapidamente comprar, numa feira livre do bairro onde me hospedava, as tais geleias.




Que coisa, ali se comprava geleia na feira livre, vendidas fartamente, em tachos de madeira por uma senhora mais parecendo uma “mamma italiana” !! Não é que era mesmo!!!  Aquela coisa linda, plena, trêmula e translúcida na minha frente, farta de sabores, então, não tão comuns no nordeste: morango, figo, pêssego e uva!! Dos mais diversos gostos. Pura geleia artesanal. Cada qual delas, continham uma história familiar, pensei. “Quais queria levar?! - perguntou meu tio. Melhor um pouco de cada pois não conheço nenhuma, respondi! Mentia e falava a verdade ao mesmo tempo! Estava realmente encantada com aquela figura simpática, forte com avental colorido e seus tachos de madeira na frente, pesando com aquela colherzona de pau em um saco plástico as tais geleias...Levamos de tudo um pouco como permitia o coração imenso de meu tio. A cena ficou em minha mente. Quanto às geleias, foram todas devorada mas não tive a oportunidade de documentar aquele momento.






Depois fui a uma fábrica de geleias, sabores regionais, na Chapada Diamantina na Bahia. Coitada da vendedora, mal sabia que eu iria provar todas disponíveis (mas também compraria)! Saíram rindo de mim depois de tanta degustação, rsrsrs... E finalmente, na região dos Aparados da Serra no Rio Grande do Sul, novamente optei por conhecer uma fábrica de geleias de frutas locais das quais não conhecia e me deliciei! Embarquei de volta pra casa no nordeste com sobrepeso na mala da quantidade de geleias que trouxe de viagem!


Acompanham pães, tortas, bolachas, biscoitos, assados, churrascos, sorvetes, drinks, conversas encontros e histórias! Ufa! Quer saber?! Pra mim, que agora fabrico geleias artesanais de frutas tropicais, elas são mesmo cabais!

Outubro 2019.













Crédito Fotos: Banco de imagens dos Caminhos Das Alagoas por Gianna Perrelli.