abril 13, 2016

Trilha dos Visgueiros, Maragogi AL: parece fácil mas não é!

Velhas Árvores 

Olha estas velhas árvores, mais belas
Do que as árvores moças, mais amigas,
Tanto mais belas quanto mais antigas,
Vencedoras da idade e das procelas...
O homem, a fera e o inseto, à sombra delas
Vivem, livres da fome e de fadigas:
E em seus galhos abrigam-se as cantigas
E os amores das aves tagarelas.
Não choremos, amigo, a mocidade!
Envelheçamos rindo. Envelheçamos
Como as árvores fortes envelhecem,
Na glória de alegria e da bondade,
Agasalhando os pássaros nos ramos,
Dando sombra e consolo aos que padecem!

(Olavo Bilac)
Cada espécie uma gratidão

Parece muito fácil, mas não é!
Primeiro você adquire credibilidade no trabalho que ama realizar. Depois consolida um grupo de amigos com, ao menos, um objetivo comum. Absolve e dissemina os tais objetivos como de menor importância que àquele estilo de vida que propõe... E descobre que esse tem que considerar que lamúrias levam a lamúrias e propor ainda gratidão. É o que interessa...
































Aí você despenca diante da mãe natureza como se não mais estivesse nos “enta” ou “na idade do condor” e sente-se uma criança novamente com seu brinquedo! A compostura e imagem profissionais desabam... Até a próxima trilha!













Daí você vai postar seu feito no blog e começa a digerir todo o percurso realizado com sucesso e que singra n’alma a certeza de sermos privilegiados e gratos por cada passo ao encontro de um “simples pé de pau”, diria um matuto.




Todo mundo vira Jane de Tarsan





















Mas nós, não! Nós sabemos que aqueles Visgueiros (Parkia pendula) não são tão simples assim. Vidas de todo um ecossistema depende dele no seu território, um emaranhado de dependência vital. Há mais de trezentos anos estão ali com uma função nobre de garantir vidas e expandir outras. Como as nossas que torna-se encantada por sua nobre, esbelta, elegante e potente presença. Gratidão lembram?! Quantos têm esse privilégio?!! Quantos são cônscios de que andaram, sentiram, ouviram, viram?!!














































Os visgueiros dão nome a trilha que fica no município de Maragogi, Alagoas, especificamente no Assentamento Águas Frias. Então não é só piscinas naturais de APA COSTA DOS CORAIS. Tem atração natural para quem gosta de contato direto com a natureza da Mata Atlântica.  Procure por Neto ou Geraldo que conduzem a aventura segura. Mas não espere infraestrutura e conhecimento turístico porque falta atentarem para o mapeamento, a sinalização da trilha, das espécies locais e principalmente da capacitação dos condutores com o conhecimento científico do patrimônio natural que faz parte de seu território. Mas sobra boa vontade e acolhimento na CoopeAgro onde trabalham.



Paz , muita paz!














Você desce do carro e já dá de cara com o artesanato local. Caro ao meu ver, mas bem feito. Aí começa a caminhar e quando adentra a mata observa as espécies de todos os portes. Gigantescos cipós se entrelaçam nos troncos das árvores ornamentando-as naturalmente. Viram enquadramento para uma boa foto. Cada cipó um flash!





Mas a maior atração é o visgueiro “mãe” que tem mais de 22 metros de altura. Não cabe da foto! Tem copa baldoada e raízes planas que se estendem por vários metros antes de seu tronco. Topa daqui... dá mais uns passos, topa dali! Seu nome diz respeito ao visgo que sua fruta tem garantindo a manutenção da semente até que algum animal possa servir-se dele. Usado também para inflamações. Uma grande casa de abelhas africanas doma sua copa como a exigir respeito e silêncio. Então hora da reflexão... Quantas histórias e quanta gratidão estiveram por aqui?!!






Aliás, "a origem do nome do município “Maragogi” deriva de língua tupi seiscentista falada pelos índios pitiguares que habitavam o litoral norte da atual Alagoas. No século XVI aparece a grafia “mariguis”, e no século XVII os holandeses grafavam “mariguiji”. Há também a forma seiscentista “maraguí”que vem do tupi “moerú- guí- í”, que significa “rio dos mosquitos”ou dos maruins..." Fonte: Secretaria de Cultura de Maragogi


A estrela da trilha : senhora cigarra




Pau de jangada . Quase extinto

O ninho do primeiro beija flor

O outro ninho de beija flor














O município é rico em história pois foi palco da Guerra dos Cabanos. Que começou como um movimento restaurador armado, que tinha por objetivo trazer de volta ao trono do Brasil, o Imperador D. Pedro I, que renunciara e voltara a Portugal... Em 26 de Outubro de 1832, tropas provinciais matam em combate, no reduto do Feijão, o líder Antônio Timóteo de Andrade e o Almirante Tamandaré prende o líder João Batista de Araújo em sua casa, na praia de Barra Grande. Entre novembro de 1832 e Janeiro de 1834, a chefia da guerra passa para as forças populares, sendo o comandante geral Vicente de Paula líder supremo da Insurreição Cabana. Unificou a chefia insurrecional e buscou apoio dos negros Papa-Méis, que viviam fugidos da escravidão nas matas. Iniciou os ataques aos engenhos-de-açúcar para libertar os negros escravos. Por um curto período teve o apoio dos índios kariri, das aldeias de Jacuipe, dos índios fulniô de Águas Belas, dos índios Xucuru de Palmeiras dos Índios, dos índios Garanhuns e dos índios de Escalas.
Os primeiros arraiais guerrilheiros são erguidos nas matas de Imbiras, Barra de Piabas e Piabas. Os cabanos, numa manobra guerrilheira tentam tomar o povoado da Barra Grande, mas são postos em fuga pelas tropas provinciais acantonadas ali. E recuam sob forte tiroteio até o povoado de Gamela (hoje cidade de Maragogi), e de lá chegam à praia de São Bento, onde cabanos feridos se curavam dos ferimentos à bala. Ocorre então a matança de São Bento, tendo as tropas provinciais morto à bala e à facada todos os cabanos encontrados.

Os negros papa-méis (assim chamados os negros escravos que fugiam da escravidão dos engenhos e se escondem nas matas) aderem à insurreição e mudam os rumos da guerra: lutam os cabanos agora pela libertação dos escravos, atacando inclusive os engenhos de açúcar e ocupam terras onde constroem seus arraiais guerrilheiros. A guerra termina em Janeiro de 1850, quando foi preso Vicente de Paula nas matas do Mato Frio pelas tropas provinciais e enviados ao presídio de Ilha de Fernando de Noronha. Morreu no engenho Marvano, em Jacuipe. Fonte: Dirceu Lindoso (Historiador)
















Duas queridas mariolas e mais que amigas



São Bento: Livrai-nos do mal!












Justifica-se a ocupação missionária da Ordem Beneditina e as ruinas do Mosteiro de São Bento que fecha nosso roteiro. Lamentavelmente um sítio arqueológico e histórico aberto à visitação pública e perdendo, à céu aberto, seus valores arqueológicos e históricos. O IPHAN esteve lá, fincou umas placas identificando o patrimônio da união e só!! Burocracia desse louco processo brasileiro de “valorizar” nossa história.


Assim seja Amém! Colaboração fotos e video Anita Ga,meleira e Simone Sarmento